OBJETIVO 3 | Promover a valorização do patrimônio cultural (material e imaterial) de São Miguel Paulista e fortalecer sua conexão com a cidade

FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL PROMOVE ATIVIDADES DE FOMENTO À CULTURA EM SÃO MIGUEL PAULISTA


AÇÕES DE FORMAÇÃO INCENTIVAM FORTALECIMENTO DA PRODUÇÃO CULTURAL BASEADA EM EXPERIÊNCIAS, SABERES E TRADIÇÕES LOCAIS

As manifestações culturais das periferias cada vez mais reafirmam a potência dos territórios. Essa ideia foi apresentada pela antropóloga Regina Novaes durante o Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade. Segundo a pesquisadora, os jovens têm um papel central nessa produção cultural, que, muitas vezes, questiona segregações espaciais e cria grupos, redes e movimentos.

Nesse sentido, a Fundação Tide Setubal busca contribuir para o fortalecimento de coletivos e agentes culturais em áreas vulneráveis e apoiar a promoção da agenda cultural de regiões periféricas.

Durante 2016, uma parceria com a Aldeia Satélite Espaço Cultural possibilitou a execução de diversas oficinas de teatro no território, envolvendo desde coletivos e artistas independentes até pessoas sem experiência nas artes cênicas.

O módulo de Teatro para Iniciantes, voltado para adolescentes e jovens a partir de 13 anos, contou com atividades como rodas de conversa, leitura e escrita, expressão corporal, jogos teatrais, construção de textos dramáticos, pesquisa e montagem teatral e passeios culturais a teatros, museus e centros culturais.

Já no curso de Pesquisa Teatral Continuada, voltado para pessoas que já acumulavam alguma experiência na área, o foco foi a criação de um grupo de trabalho permanente dedicado à pesquisa e à prática teatral em São Miguel Paulista. Um dos desdobramentos desse curso foi o espetáculo Um em Cada Três, apresentado nos dias 25 e 26 de novembro na Aldeia Satélite Espaço Cultural. O nome da peça surgiu do recente estudo realizado pelo Instituto Datafolha que constatou que um em cada três brasileiros culpa a mulher em casos de estupro.

O grupo também pesquisou outros temas como a homofobia e o preconceito contra a diversidade, pois seus integrantes entendem que as questões de gênero não se encerram na divisão binária homem e mulher, mas se multiplicam em um conjunto de normatizações impostas culturalmente.

O módulo Urbe Lab, por sua vez, foi um espaço para diálogo e experimentação artística. Seu objetivo era despertar nos participantes um olhar sensível para a cidade, o espaço urbano e a vida coletiva, estimulando a produção artística em suas diferentes linguagens.

O desafio da captação de recursos

Além de oferecer cursos voltados para a formação de atores, em 2016, a Fundação Tide Setubal trabalhou para fortalecer as organizações locais no desafio de captar recursos. Uma dessas formas de atuação foi por meio de oficinas para apoiar coletivos e artistas independentes do teatro de São Miguel Paulista na escrita de projetos em editais – muitas vezes, a única forma de viabilizar produções culturais na periferia.

Em janeiro de 2016, foram realizados cinco encontros de formação e escrita de projetos voltados para o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), envolvendo 12 participantes. Dos seis projetos inscritos no programa um deles – Circolando, da Trupe Arte Circando – foi aprovado, captando R$ 33 mil.

Além de auxiliar artistas na criação de projetos individuais, a Fundação mobilizou grupos e agentes de teatro locais para o desenvolvimento de um projeto comum voltado ao fomento à reflexão da produção teatral de São Miguel Paulista, com o intuito de inscrevê-lo no edital do Programa de Fomento à Cultura da Periferia. O edital tem como base a Lei de Fomento às Periferias, recémsancionada e que contou com a mobilização da Fundação para dar visibilidade à necessidade de sua criação. Em 2016, o Movimento Cultural da Periferia participou de uma roda de conversa realizada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP Leste), que colocou a questão em debate público.

Durante as oficinas com foco no edital do Programa de Fomento à Cultura da Periferia, surgiu entre os alunos uma nova demanda: criar, também, um Fórum de Teatro para dialogar sobre a cena cultural do bairro e promover a troca de experiências entre os participantes. Infelizmente, o projeto criado no curso não foi contemplado com recursos do edital em 2016, mas a articulação dos diferentes grupos gerou bons resultados.

No decorrer das atividades formativas e da mobilização do Fórum de Teatro, foram realizados debates públicos, experiências e reflexões na perspectiva de produzir significados e saberes que contribuam para o fortalecimento das identidades locais, o empoderamento da comunidade e a participação cidadã. Rafaela Terriaga, integrante do grupo Ansur, afirmou: “O fórum é um processo de evolução tanto para mim, como atriz, quanto para o coletivo. Somos um grupo novo, e conhecer a experiência de outros artistas de teatro da região é muito importante”.

Antes do fim do ano, foi feito mais um módulo de elaboração de projetos culturais, dessa vez com foco na Lei Rouanet. Os alunos do curso pretendem inscrever no edital o projeto de um livro contendo a produção dramatúrgica dos sete grupos participantes, além do histórico da cena local. Ainda de acordo com o projeto, será realizada uma mostra de teatro com companhias locais. Em fase de produção, o projeto será finalizado em 2017.

Agenda cultural

As atividades culturais promovidas pela Fundação Tide Setubal no Jardim Lapenna foram além das artes cênicas. Em julho, aconteceram duas tradicionais celebrações no território: a Festa Julina e o Encontro de Cultura Caipira.

Com o tema Um Rio Chamado Casa e uma Luta Chamada Terra, a 7ª Festa Julina do Galpão abordou de maneira lúdica a luta da população local por seus direitos. A cultura local, sobretudo a afro-brasileira, foi resgatada por meio de brincadeiras, rodas de capoeira, comidas típicas e apresentações. Entre as atrações estiveram a peça de teatro Rapadura É Doce, mas Não É Mole, do grupo de teatro do CCA, e as bandas Trio Flor de Muçambê, Jabuticaqui e FB Samba, que recebeu como convidado o Samba de Bumbo com Sucatas Ambulantes. Alunos de escolas do território também participaram de apresentações, como dos CEIs Jardim Lapenna e Jardim Lapenna 1.

Na quadrilha, que já é tradição das Festas Julinas do Galpão, os jovens engajaram-se com o tema da festa, discutindo de forma dramatizada e animada a questão fundiária e os riscos de morar na várzea do Rio Tietê.

O festejo contou, também, com duas exposições: uma de fotos, que destacou as belezas existentes no território, com materiais produzidos por jovens que participaram de um curso de fotografia realizado em julho pela Fundação Tide Setubal, em parceria com o Instituto Nova União da Arte; e a outra com a história e os trabalhos dos artistas do Jardim Lapenna.

O 10° Encontro de Cultura Caipira, por sua vez, aconteceu nas ruas do bairro e contou com o mesmo tema que a Festa Julina. A temática se fez presente nas apresentações realizadas durante o evento, entre elas o Jongo do Quilombo do Cafundó e o coral indígena Kerexu, da tribo Tekoa Ytu, aldeia indígena localizada na região do Pico do Jaraguá, na cidade de São Paulo.

Para Maria Amélia Correia Ferreira dos Santos, moradora do bairro Itaim Paulista, o berço da cultura brasileira esteve presente no festejo. “É a primeira vez que venho a esta festa e estou amando, um banho de cultura, um resgate dos nossos antepassados. E, para mim, a marca de hoje é a representatividade da cultura indígena e da africana”, disse.