OBJETIVO 1 | Contribuir para a redução das vulnerabilidades sociais de adolescentes e jovens de São Miguel Paulista

JOVENS ENGAJADOS LUTAM POR SEUS DIREITOS


CRIANÇAS E ADOLESCENTES DESENVOLVEM OLHAR CRÍTICO E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM ATIVIDADES DA FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL

Promover o aumento da participação dos jovens de regiões periféricas nas questões ligadas a seu território, cidade ou mesmo país é parte essencial da atuação da Fundação na luta pela redução das vulnerabilidades de crianças e adolescentes. Assim, ao longo do ano, a organização trabalhou junto a esse público no Galpão de Cultura e Cidadania para qualificar sua participação em diferentes questões que envolvem a promoção de seus direitos.

A principal estratégia de atuação foi a realização de formação política para adolescentes e jovens do território do Jardim Lapenna por meio de dois diferentes programas. No Espaço Jovem, adolescentes de 12 a 18 anos participaram de encontros semanais nos quais eram instigados a desenvolver um olhar crítico para assuntos relacionados a três principais eixos: temas transversais da adolescência, fortalecimento de habilidades de convivência e cidadania, e participação política. Para complementar as atividades e promover a garantia do direito à cidade, os jovens participaram de atividades e passeios no território e também em outras áreas de São Paulo, como o Parque do Ibirapuera, a Avenida Paulista e o Estádio do Pacaembu. A ideia da circulação pela cidade não é apenas proporcionar lazer e cultura, mas também pontuar cidadania, direito e participação na construção da cidade, com seus olhares, debates e intervenções, de forma ativa. “Se o jovem viver em uma bolha e não tiver um olhar para a cidade e o que ela diz – inclusive sobre ele –, o adolescente fica isolado desse mundo e não consegue articular-se e romper com suas vulnerabilidades”, afirma Viviane Soranso, assistente de projetos da Fundação Tide Setubal.

O projeto Atitude Jovem, por sua vez, é voltado para adolescentes de 15 a 18 anos e, em 2016, envolveu 12 ex-alunos do projeto Espaço Jovem. Durante encontros quinzenais, eles passaram por um processo de formação política cujo principal objetivo era contribuir para o reconhecimento dos seus direitos e o desenvolvimento de uma visão crítica da sociedade, no que se refere às questões estruturais da política, étnico-raciais e de identidade de gênero.

O trabalho teve como base discutir o conceito de democracia a partir dos pilares de participação, educação e informação. Para isso, as atividades mesclaram momentos teóricos com exercícios lúdicos, como a projeção de filmes ou a criação de jogos de tabuleiro, que abordavam conceitos da política de forma acessível e discutiam, por meio de exemplos de situações corriqueiras, a violação de direitos, como a corrupção, regimes ditatoriais, o racismo, o machismo e a homofobia.

Uma das principais ações conduzidas pelos jovens foi uma campanha contra o machismo. Para embasá-la, os participantes do programa fizeram uma pesquisa na região, entrevistando outros adolescentes sobre questões ligadas a discriminação, homofobia, violência doméstica e atitudes machistas no dia a dia do território. Com os dados em mãos, os jovens olharam, então, para levantamentos nacionais que tratam das mesmas questões, identificando que muitas das atitudes machistas presentes no Jardim Lapenna também ocorrem no restante do país. Para tentar mudar essa situação, os adolescentes criaram cartazes, lambe-lambes e folhetos sobre o machismo e fizeram atividades de conscientização junto à comunidade. Durante o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, o grupo fez uma fala de abertura antes da apresentação da peça Carne, da Kiwi Companhia de Teatro, que trata a temática. Depois, os jovens participaram de um debate junto aos atores para problematizar as questões trazidas pela apresentação.

Outra forma de atuação das crianças e dos adolescentes se deu por meio da criação do roteiro para a quadrilha da Festa Julina organizada pela Fundação Tide Setubal. O envolvimento dos jovens na quadrilha começou há seis anos e surgiu, inicialmente, como uma estratégia para encorajar sua participação na festa. Além de envolver música e dança, a quadrilha traz discussões políticas, com temas variados, ressaltando a importância do reconhecimento das manifestações culturais tradicionais que dialogam com a cultura africana, afro-brasileira e indígena. Em 2016, o tema foi movimentos sociais e o direito à terra e mobilizou não apenas os jovens participantes dos programas Espaço Jovem e Atitude Jovem, mas também outros moradores da região.

Aprendizados

As lições foram numerosas. “Vimos que, quando falávamos de aspectos mais formais da política, os jovens tinham menos interesse, mas, por outro lado, o seu envolvimento crescia diante das novas formas de se fazer política, como a organização da sociedade civil em coletivos”, diz Viviane Soranso. “Então, além de trabalhar com vídeos e discussões, levamos os jovens a coletivos.” Um deles, o Estopô Balaio, trabalha a questão das enchentes no Jardim Romano, problema semelhante ao enfrentado no Jardim Lapenna, e permitiu que os jovens refletissem sobre sua realidade a partir de experiências vistas em outro território. “Esse tipo de circulação fortaleceu o debate sobre a cidade como direito, com suas contradições, em uma eterna luta de quem vive na periferia e luta pelo acesso de qualidade a equipamentos básicos, como saúde, educação, moradia e transporte”, diz Viviane.

Outro aprendizado foi a necessidade de fragmentar as atividades de estímulo à participação em etapas e acompanhá-las de perto. Superar esses desafios trouxe bons resultados. “Os jovens ficaram mais politizados, o que pode ser visto por um novo nível de atenção demonstrado pelas questões trazidas pela mídia, por exemplo. Além disso, muitos participantes passaram a verbalizar melhor suas crenças, se afirmando por meio de grupos de hip hop, do movimento negro etc., conseguindo colocar-se no mundo de outra forma. A voz do adolescente deve ser escutada e falada”, argumenta Viviane. Por meio dos projetos conduzidos pela Fundação em 2016, essa escuta e diálogo foram fortalecidos no Jardim Lapenna.