OBJETIVO 2 | Contribuir para a ampliação da oferta e para a efetividade das ações voltadas ao desenvolvimento de São Miguel Paulista empreendidas pelo Estado, pela iniciativa privada e por outras organizações da sociedade civil

FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL CELEBRA UMA DÉCADA DE HISTÓRIA


EM SEU ANIVERSÁRIO DE 10 ANOS, INSTITUIÇÃO FOMENTA DEBATE SOBRE ENFRENTAMENTO DE
DESIGUALDADES EM PERIFERIAS URBANAS COMSEMINÁRIO, PESQUISA ELANÇAMENTO DE PUBLICAÇÕES

Em 2016, a Fundação Tide Setubal completou 10 anos de atuação, orientada pela missão de contribuir para o desenvolvimento local sustentável, com as premissas de construir caminhos com a comunidade e de mobilizar e articular lideranças locais, o poder público e instituições locais para a atuação conjunta. Nesse período, no qual as ações da organização focaram-se principalmente em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, foi possível comemorar muitas conquistas junto ao território e também superar desafios vivenciados por todos aqueles que buscam a transformação de uma sociedade cada vez mais justa, igualitária e democrática.

A forma de atuação da Fundação foi inspirada pelo trabalho social realizado por Tide Setubal quando era primeira-dama do município de São Paulo, na década de 1970. À frente de seu tempo, ela defendia o trabalho integrado de todas as instituições como forma de incentivar o desenvolvimento local e despertar no indivíduo noções de cidadania e de luta por seus direitos. Anos depois, seus filhos decidiram retomar o seu trabalho em São Miguel Paulista, criando a Fundação.

“Ao reconstituir o que foi trilhado nesses dez anos, é gratificante ver o muito que já caminhamos, fazendo parte das transformações ocorridas no Brasil e especialmente em São Miguel Paulista, território no qual escolhemos trabalhar. Os avanços positivos da região reiteram que foi acertada a opção de se trabalhar com o desenvolvimento local sustentável, adotando um olhar sistêmico e intersetorial para pensar e realizar as ações”, comenta Maria Alice Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal e uma das criadoras da Fundação.

Ao longo dos anos, a articulação da Fundação com moradores locais e parceiros resultou em grandes avanços para o bairro, como a construção de duas creches, uma Unidade Básica de Saúde, dois pontos de leitura e dois telecentros, o acesso à estação de trem, o recolhimento rotineiro do lixo, o restauro da Capela de São Miguel Arcanjo, datada do século XVI, e a reforma do tradicional mercado municipal, o Mercadão de São Miguel. Mas o impacto dos trabalhos realizados vai além dos números. Os ganhos dessa década se revelam no fortalecimento das diferentes instituições locais e também na transformação pessoal, experimentada por cada um em diferentes níveis e dimensões de suas vidas.

Parte do sucesso obtido vem da confiança adquirida junto à comunidade, fruto de uma atuação transparente e participativa, baseada no “pensar e fazer com” e na crença de que projetos transformam pessoas, pessoas transformam o mundo. “Uma das primeiras lições aprendidas no território é a necessidade indiscutível de escutarmos as reais demandas da comunidade e de respeitarmos a cultura local e seu tempo, porque são esses aspectos que, juntos, dão a tônica e o ritmo aos processos de mudança”, afirma Paula Galeano, superintendente da Fundação Tide Setubal.

Outros aprendizados acumulados ao longo da década envolvem a valorização das parcerias com outras instituições e grupos, na busca de um “fazer coletivo”, e a necessidade de influenciar políticas públicas para que estas levem em conta diferentes aspectos e demandas dos territórios vulneráveis, sobretudo os periféricos. Para a Fundação Tide Setubal, o território importa!

Ao celebrar os seus 10 anos, a Fundação Tide Setubal priorizou ações focadas na produção de conhecimento e no fomento ao debate sobre cidades, desigualdades e periferias urbanas.

Como tornar a cidade mais receptiva a todos os seus habitantes? O que fazer para superar os inúmeros desafios que marcam o cotidiano das metrópoles? Qual o papel do território e da participação dos cidadãos no desenho de políticas públicas para abordar esses problemas? Esses foram alguns dos temas discutidos no Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade, realizado em São Paulo no dia 14 de junho pela Fundação Tide Setubal, em parceria com o jornal Folha de S.Paulo. O evento reuniu mais de 800 pessoas em um dia de reflexões, debates e proposições.

Na conferência de abertura do seminário, a socióloga holandesa Saskia Sassen, referência mundial na área de sociologia urbana por suas análises sobre os fenômenos da globalização e da migração urbana, discutiu sobre as novas configurações metropolitanas e a importância do território para as políticas públicas urbanas, enfatizando a necessidade de se redescobrir o que são, de fato, as cidades. “Precisamos proteger o conceito de cidade, pois ela nos transforma em sujeitos urbanos”, afirmou. “Mas nós perdemos a capacidade de entender como a cidade, com a complexidade do espaço, pode falar conosco e transformar as coisas.”

Ao longo do dia, foram realizadas quatro mesas de debate a fim de discutir diferentes perspectivas a respeito dos territórios. A primeira delas, “Do caos urbano à cidade sustentável”, contou com a presença de Ricardo Abramovay, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP); Aldaiza Sposati, professora do Centro de Estudos de Desigualdades Socioterritoriais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); e Ricardo Sennes, coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP.

De acordo com os especialistas, será preciso fortalecer mais os territórios, com um olhar focado nas potencialidades locais e na criação de novos arranjos econômicos, para a superação das muitas desigualdades que ainda persistem. “Se continuarmos concentrando as oportunidades em ‘manchas urbanas’, será pouco eficaz, não só do ponto de vista econômico, mas social. Por isso, devemos incorporar no planejamento urbano das grandes cidades brasileiras a dimensão da competitividade econômica, tornando diversos pontos da cidade competitivos, descentralizando o desenvolvimento e gerando valor agregado em várias áreas”, enfatizou Sennes.

Na segunda mesa, chamada “Apropriação do espaço público e o direito à cidade”, participaram Christian Dunker, fundador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP; Pablo Maturana, consultor internacional, ex-subdiretor da área de relações locais e internacionais da Agência de Cooperação de Medellín, Colômbia; e Jaílson de Souza e Silva, criador do portal Observatório de Favelas e professor de Geografia da Universidade Federal Fluminense. No debate, foram discutidos o sentimento de pertencimento à metrópole, o reconhecimento e valorização da cultura e potência da periferia e a integração popular por meio da cultura, educação e transporte e participação social.

Na mesa “Conexões culturais: encontros e desencontros na cidade”, participaram os debatedores Regina Novaes, doutora em Antropologia Social pela USP; Robinson Padial, poeta criador do Sarau do Binho e de um livro que conta com mais de 180 autores da periferia; e Ronaldo Almeida, professor do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutor pela École des Hautes en Sciences, de Paris. Na conversa, surgiram questões como o movimento dos rolezinhos, os fenômenos culturais do rap e do funk, a influência da religião nas periferias e a violência policial contra o jovem, em especial os negros moradores de áreas vulneráveis.

“A voz do jovem na mobilização social” foi a última mesa do dia, e nela os participantes destacaram que o Brasil tem construído uma nova forma de participar, mobilizar e fazer política, tendo a juventude um papel fundamental nesse processo. A cientista social Beatriz Pedreira apresentou alguns dados a respeito da pesquisa Sonho Brasileiro da Política, da qual foi coordenadora, ressaltando a importância que as mobilizações de 2013 tiveram para a nova geração: “Vimos que hoje o que mobiliza a juventude são causas que não estão nos partidos”. Também participaram da discussão Alessandra Orofino, diretora-executiva da Rede Nossas Cidades; e Tony Marlon, criador da Escola de Notícias.

A última conferência do evento, batizada de “Políticas educacionais: a universalização produz igualdade nos territórios?”, contou com a participação de Choukri Ben Ayed, professor do Departamento de Sociologia da Université de Limoges, da França. Segundo o sociólogo, a França, apesar de ter universalizado a educação há décadas, ainda se depara com uma série de dificuldades em termos de equalidade. Quando o governo francês passou a reconhecer o problema, as políticas adotadas acabaram por gerar mais segregação em vez de resolvê-la e, mais recentemente, foi criada uma lei para refundar a escola pública, a fim de garantir a diversidade social. “Não bastam as leis. Precisamos avançar produzindo estatísticas sobre a questão da discriminação e as minorias étnicas”, afirmou, ressaltando a importância da adaptação de políticas para a realidade de cada território.

Para encerrar o seminário, Maria Alice Setubal destacou que a escolha por terminar o dia com o tema educação não foi por acaso, tendo em vista a sua importância para a superação dos grandes desafios mundiais, e que é preciso pensar o território do século XXI com o olhar para a inovação. “O dia de debates nos mostrou a necessidade do diálogo, do reconhecimento e da convivência com as diferenças. Precisamos nos abrir para ouvir o outro. Estamos vivendo no Brasil uma situação política e economicamente complicada, que exige da gente mais compromisso nesse diálogo”, concluiu.

Leia mais sobre as rodas de conversa e o Encontro de Cultura Hip Hop e Aliados, que discutiram temas ligados a cidades e territórios como parte das comemorações dos 10 anos da Fundação Tide Setubal

Na mesma semana, a Folha de S.Paulo publicou caderno especial intitulado Cidades e Territórios – Somos Todos Periferia, inspirado nos debates do seminário, com pautas que discutiram temas como desigualdades socioespaciais, políticas públicas e experiências inovadoras em regiões vulneráveis, além da cobertura do seminário. O caderno ainda divulgou uma pesquisa inédita do Datafolha que apontou que a maioria dos paulistanos afirma morar em áreas excluídas (52%), um quarto da população diz ter sido discriminada por causa do endereço e 40% dos moradores evitam alguns bairros da cidade, reafirmando o preconceito com relação às regiões periféricas da cidade. Leia a publicação completa aqui.

Sistematização de metodologias

A celebração dos 10 anos de atuação da Fundação resultou, também, na sistematização e disseminação de duas metodologias criadas pela organização.

Lançado em novembro, durante o 7º Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, o livro Conexão São Miguel Paulista – Uma Década de Experiências da Fundação Tide Setubal no Enfrentamento de Desigualdades em Periferias Urbanas apresenta a trajetória da instituição, a análise das mudanças sociais na região, com base em 17 indicadores, nesse período, a sistematização da metodologia e os princípios que guiam o seu trabalho, com a perspectiva de inspirar a atuação de outras organizações na busca pela equidade, além dos desafios futuros. A publicação traz, também, dez personagens com histórias que apresentam seu encontro com a Fundação Tide Setubal e de que forma sua atuação foi transformada.

Conheça melhor a trajetória da Fundação, seus programas e aprendizados na publicação, disponível para downloads gratuitos aqui.

A segunda publicação criada pela Fundação Tide Setubal em 2016 foi o livro Famílias e Conexões Territoriais: uma experiência no enfrentamento das desigualdades na zona leste de São Paulo, lançado em março durante o 9° Congresso Gife. A obra sistematiza a experiência de nove anos de trabalho do Programa Ação Família em São Miguel Paulista, que tem como objetivo fortalecer as famílias vulneráveis, promover seu acesso aos serviços públicos e estimular a maior participação comunitária e o exercício da cidadania. A publicação oferece também o Guia para o Desenvolvimento de Reuniões Socioeducativas, que procura inspirar ações com famílias baseadas na metodologia utilizada pelo Programa.

Para download gratuito do livro e do Guia para Desenvolvimento de Reuniões Socioeducativas, >clique aqui