OBJETIVO 1 | Contribuir para a redução das vulnerabilidades sociais de adolescentes e jovens de São Miguel Paulista

FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL APOIA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INTEGRAL E O FORTALECIMENTO DE ESCOLAS


EM PARCERIA COM A DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO MIGUEL, A FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL REALIZOU, EM 2016, CURSOS DE CAPACITAÇÃO PARA EDUCADORES E GESTORES DAS ESCOLAS DA REGIÃO, ESTREITANDO OS SEUS LAÇOS COM O TERRITÓRIO

Construir uma educação que dialogue com a realidade e os interesses dos estudantes e com as características e demandas do século XXI é uma das propostas da Educação Integral, que tem como foco desenvolver a criança ou jovem na sua integralidade – ou seja, nos seus aspectos cognitivos, físicos, emocionais e sociais. Contudo, implementar esse novo conceito nas escolas e contar com a participação de todos da comunidade ainda é um desafio encontrado pela gestão pública.

Nos últimos dez anos, a Fundação Tide Setubal produziu, em parceria com educadores e educandos das redes públicas de São Miguel Paulista, metodologias, experiências e práticas educativas baseadas na relação escola-família-território e, em 2016, teve a oportunidade de aplicá-las no apoio à implementação do programa São Paulo Integral, uma política pública municipal que, alinhada ao Programa Mais Educação São Paulo, visa melhorar a qualidade da educação. No total, 11 instituições de ensino locais aderiram ao programa.

Os cursos foram baseados em demandas feitas pela DRE com base em um diagnóstico da rede local. Primeiramente, foi apontada a necessidade de se construírem estratégias para melhorar a qualidade das relações interpessoais entre gestores, coordenadores, educadores e funcionários de apoio das escolas. Dessa demanda surgiu o curso “Encontros e diálogos: o papel da gestão escolar na construção de ambientes de convivência”. A formação, que funcionou de maneira híbrida (presencial e a distância) e teve participação de 21 educadores, trabalhou a convivência entre os atores da escola, reduziu atritos e contribuiu para uma gestão mais participativa e democrática que evidencia o respeito e as diversidades. Nos encontros, foram conduzidos diversos exercícios e debates sobre o papel da gestão e como ele era visto pelos diferentes profissionais. Esse trabalho é fundamental para a implementação das políticas de Educação Integral, pois ela estimula a interdisciplinaridade e a cooperação entre membros da comunidade escolar.

Já o curso “Entrelaçamento escola, família e território” teve como principal objetivo gerar um maior envolvimento das famílias nas escolas, elemento fundamental para a Educação Integral. Em sua primeira fase, que contou com 20 educadores e gestores de dez EMEFs e dois CEUs locais, foi disseminada a metodologia do Programa Ação Família, da Fundação Tide Setubal. Segundo Cecília França, técnica do Programa e responsável por ministrar as aulas desse módulo, as escolas têm se perguntado muito sobre como trabalhar com as famílias. “Elas já identificaram a necessidade de se aproximar, mas ainda não têm muito claro como fazer isso. Acredito que, com o nosso histórico de trabalho com família, podemos contribuir e pensarmos, juntos, esse caminho.” Por meio de filmes, desenhos, dinâmicas e debates, os participantes da formação refletiram sobre a realidade escolar e a relação com a família dos estudantes, expuseram as dificuldades e complexidades desse vínculo e pensaram em estratégias possíveis para que ele se fortaleça.

“O curso me chamou a atenção por tratar dessa relação com a família, e estou gostando muito porque debatemos bastante e as aulas estão sendo bem dinâmicas”, conta Élida Keila Maya Diógenes, professora na EMEF Josefa Nicácio Araujo.

No segundo módulo da formação, os professores trabalharam em conjunto com familiares de estudantes das escolas onde atuam. Além de muito debate e escuta, foram realizadas diversas atividades que geraram reflexão e parceria, indo desde a criação de uma horta tecnológica até passeios pelo território.

Para aprofundar a discussão e ouvir mais famílias, a Fundação Tide Setubal realizou, com o envolvimento da comunidade, uma pesquisa de opinião participativa, orientada pela equipe da instituição Rede Conhecimento Social. Seguindo a metodologia PerguntAção, os participantes do curso conduziram todas as etapas da pesquisa e ouviram 196 pessoas. Guiados pela pergunta “qual é a percepção das pessoas em relação à Educação Integral?”, educadores e familiares conversaram com a população local e fizeram muitas descobertas. Entre elas está o fato de que a maior parte das pessoas ouvidas associa Educação Integral ao maior tempo de permanência do aluno na escola e ao oferecimento de atividades diversificadas, porém, ainda não a conecta na mesma intensidade com a possibilidade de interação em ambientes fora da escola ou com parceiros dentro e fora dela.

Outro aprendizado extraído da pesquisa foi a necessidade de fortalecer os vínculos entre as famílias e as escolas, sobretudo no que diz respeito à sua interação junto ao corpo docente e funcionários:

Escolas e território em sintonia

Além dos dois cursos de formação, a Fundação realizou outras ações junto às escolas da região. Nelas, o intuito era contribuir para o fortalecimento dos vínculos das escolas com o território – essencial para que haja o desenvolvimento integral de toda a comunidade, condição necessária para a construção de uma educação voltada para a cidadania, a convivência e os valores democráticos.

“Decidimos entrelaçar as nossas experiências no Galpão de Cultura e Cidadania e as metodologias provenientes delas com os processos de formação nas escolas, abordando as principais demandas identificadas pelas instituições de ensino”, explica José Luiz Adeve, coordenador do Núcleo de Comunicação Comunitária da Fundação.

Ao todo cinco instituições de ensino foram selecionadas para um trabalho próximo à Fundação. Na Escola Municipal José Bento de Assis, a maior necessidade era fortalecer o plano político-pedagógico, orientado pelos princípios da Educação Integral e gestão democrática. Além de realizar formações junto aos coordenadores, a equipe da Fundação trabalhou as relações escola-estudantes, encorajando melhor escuta, mais participação na gestão da escola e a criação e manutenção de espaços de decisões coletivas.

Além disso, foram realizados encontros quinzenais com 25 professores, com o objetivo de repensar a formação continuada dos educadores e contribuir para o processo escolar, sobretudo no que se refere à transversalidade das temáticas em sala de aula. “O resultado desses dois semestres é visível. Os professores relatam agora que as adolescentes e os jovens estão mais interessados pela escola e se envolveram muito mais com as aulas quando as temáticas transversais foram trabalhadas na sala de aula”, afirma Daniel Cerqueira, que conduziu parte da formação.

Na EE Pedro Moreira, a Fundação atuou junto ao Ensino Médio, com a temática do mundo do trabalho e o projeto de vida dos alunos. Em nove encontros quinzenais, foram abordados temas como os fatores que interferem na escolha profissional, informações sobre as diferentes profissões e alternativas para seguir estudando depois do Ensino Médio. Em todas as atividades, a cultura local, as oportunidades e os desafios do território foram contextualizados e debatidos. Os jovens se envolveram de tal forma que a frequência às sextas-feiras (dia das ações) aumentou ao longo do ano. A escola ainda contou com atividades realizadas com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Nelas, alunos do Ensino Médio pesquisaram os recursos hídricos da região e sua história.

O esporte foi o principal tema dos trabalhos junto à EMEF Almirante Pedro de Frontim, em uma parceria com o CEU São Miguel, ainda em construção. Além de intermediar o uso do campo de futebol durante as obras, a Fundação incluiu uma turma de alunos (acompanhada pelo professor de educação física) no projeto Toque de Letras, que envolve treinos e oficinas de comunicação e cidadania com a temática do esporte e da saúde.

Já nos CEIs do Jardim Lapenna, foram realizadas reuniões formativas mensais, em uma parceria com o Instituto PENSI, que integra a Fundação José Luiz Egydio Setubal – Hospital Infantil Sabará. Entre os temas abordados estavam a segurança com medicamentos, alimentação saudável, inclusão social de crianças com transtornos e síndromes em geral e novos modelos de família e vínculos parentais. Os encontros foram realizados no Galpão de Cultura e Cidadania e resultaram no aprimoramento profissional de 119 educadoras e profissionais dos CEIs, ou seja, 89,5% das equipes desses espaços educativos, além de beneficiar diretamente 1.080 crianças de 0 a 6 anos nos territórios de São Miguel Paulista e Jardim Helena.

Outros resultados observados nas escolas vão desde a alteração do cardápio ou dos horários de limpeza dos sanitários por demanda dos alunos até uma relação mais próxima entre o corpo docente e as famílias dos estudantes. Além disso, a participação da Fundação nas ações técnico-pedagógicas da DRE São Miguel reforçou a relevância dos elementos metodológicos da relação entre a organização e a região. “A principal lição foi ver que é possível levar o território para dentro da escola. Apesar das vulnerabilidades e tensões locais, os educadores podem mudar determinados paradigmas. Nesse sentido, o uso de nossas metodologias, baseadas no nosso trabalho prévio no Galpão, mostrou-se muito positivo. Agora, a meta é continuar a conceitualizar esse trabalho e disseminá-lo para outros locais”, afirma José Luiz Adeve.