OBJETIVO 3 | Promover a valorização do patrimônio cultural (material e imaterial) de São Miguel Paulista e fortalecer sua conexão com a cidade

LITERATURA, LETRAMENTO E VISIBILIDADE PARA SÃO MIGUEL PAULISTA


PROJETOS DA FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL, COMO O FESTIVAL DO LIVRO E DA LITERATURA DE SÃO MIGUEL, COLOCARAM SÃO MIGUEL PAULISTA NO MAPA CULTURAL DA CIDADE E CONTRIBUÍRAM PARA PRÁTICAS DE LETRAMENTO E A ESCUTA DE DIVERSAS VOZES

Ler e escrever não são apenas competências práticas, necessárias para os estudos ou o trabalho. Ter acesso a livros, à literatura e às demais expressões artísticas é um direito que deve ser garantido a todo cidadão, pois se configura como uma poderosa ferramenta de construção de conhecimento e transformação social.

A Fundação Tide Setubal entende por letramento o uso da leitura e da escrita como prática social, como vivência em que leituras de mundo e leituras de palavras se entrecruzam e constroem novos sentidos e contextos, dialogando com a missão da organização de encorajar a mobilização e articulação de atores para a promoção de seus direitos. Para incentivar o letramento em São Miguel Paulista, ao longo de 2016, a Fundação desenvolveu diversas ações que envolveram crianças, adolescentes, jovens e adultos da comunidade, bem como instituições do território e de outras regiões da cidade.

O maior marco dessa frente de atuação foi a sétima edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, que aconteceu entre os dias 9 e 11 de novembro. Em diversos pontos do bairro, o evento articulou escolas, coletivos culturais, instituições locais, moradores, apoiadores, instituições públicas, patrocinadores e demais parceiros da Fundação Tide Setubal, contando com um público de cerca de 19 mil pessoas.

Com o tema Narrativas de Gênero: feminino, feminismo e outras histórias, o encontro debateu, das mais variadas formas, a presença feminina e suas produções na literatura brasileira, sobretudo a da mulher negra e/ou periférica, além de colocar em pauta temas importantes como o fim da violência contra a mulher.

O evento teve início com a versão local da Marcha Mundial das Mulheres pelo Fim da Violência contra as Mulheres, mobilização que, desde o ano 2000, envolve pessoas do mundo todo e conquistou diversos adeptos em São Miguel Paulista. Com a participação e mobilização de grupos e instituições como o Centro de Referência da Mulher (CRM) Onóris Ferreira Dias, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), a Associação de Mulheres da Zona Leste (Amzol) e a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, a passeata teve concentração na Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, mais conhecida como Praça do Forró, onde um microfone ficou aberto para quem quisesse fazer colocações. Além disso, a Batucada Feminista coordenou uma oficina de cartazes e o Sarau das Pretas, formado por jovens escritoras negras atuantes na periferia, promoveu uma intervenção com declamações de poemas de luta feminina e feminista.

Durante os três dias do evento, 47 pontos do bairro – ruas, praças, escolas, bibliotecas, pontos de leitura, unidades básicas de saúde, centros de referência e espaços socioculturais – tornaram-se lugares ainda mais privilegiados para o exercício da cidadania, estimulado pelas vivências e aprendizagens promovidas e mediadas pelos encontros com a arte e com a literatura na programação cultural oferecida. Para que tudo isso acontecesse, foi essencial a parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul e o Sesc Itaquera, e o patrocínio do Itaú e do Itaú Cultural, que apoiam a ação por meio da Lei Rouanet de incentivo à cultura, do Ministério da Cultura. Além disso, foi fundamental a participação de órgãos públicos, como a Subprefeitura de São Miguel Paulista e o Sistema Municipal de Bibliotecas, e a mobilização de diversos grupos, movimentos e coletivos culturais.

“Acredito que o Festival se confirmou como um importante evento de articulação no território, como um espaço de diálogo entre os vários movimentos sociais e também um instrumento de discussão das mais diversas temáticas. Ocupamos o espaço público, percebemos que é possível utilizá-lo para ações de reflexões e transformações sociais”, relatou Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador de Cultura da Fundação Tide Setubal.

Entre os destaques da programação estão a conversa com as autoras Cidinha da Silva, Débora Garcia e Miriam Alves, que discutiram os desafios que as mulheres – sobretudo as negras e periféricas – enfrentam para ganhar espaço na literatura, e o debate com Gabriela Franco, Laura Athayde e Petra Leão sobre a participação feminina no universo dos quadrinhos, mercado que ainda carrega traços de machismo e preconceito por parte das editoras, dos prêmios, dos fãs, das convenções e até dos comerciantes.

O tema do Festival também foi tratado por 26 escolas da região, que realizaram uma série de atividades, debates e intervenções nos mais variados pontos do território. Exemplos são a EMEF José Honório Rodrigues, do Itaim Paulista, que, entre suas ações, realizou um sarau com músicas e poesias de autoria dos estudantes do 9º ano, e a EMEF Professor José Bento de Assis, que criou o programa de rádio Conexão Fora Machismo em parceria com os núcleos Ação Família, Mundo Jovem e Comunicação Comunitária, da Fundação Tide Setubal.

Leia mais aqui sobre a participação das escolas no Festival do Livro e da Literatura de São Miguel

Além disso, mais de 8 mil livros foram arrecadados em campanha pela cidade e oferecidos como Frutos Literários, intervenção na qual os exemplares são distribuídos em árvores, praças, bibliotecas, escolas e ruas do território para serem colhidos por quem se interessar. E outros 6.093 títulos foram trocados na Feira de Troca de Livros e Gibis, realizada em parceria com o Sistema Municipal de Bibliotecas durante os três dias de Festival na Praça Morumbizinho.

Leitura o ano todo

As ações de apoio e incentivo ao letramento promovidas pela Fundação Tide Setubal se estendem para além do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel. Com o projeto Ponto de Leitura Jardim Lapenna, o acesso à cultura escrita e à produção literária é incentivado por meio da realização de atividades formativas, ações de mobilização e intervenção no território e da oferta do acervo literário disponibilizado pela Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas, totalizando 7.400 títulos, entre livros, revistas e revistas em quadrinhos e materiais periódicos, como jornais acessados por moradores do Jardim Lapenna e de outras regiões da cidade.

A Fundação Tide Setubal promoveu, também em 2016, o Intercâmbio Cultural Vaga Lume, em parceria com o Programa Rede Vaga Lume. Na ação formativa, o maior objetivo foi estimular a leitura e a escrita e possibilitar que os adolescentes e jovens participantes do projeto desenvolvessem um olhar crítico e reflexivo para a sua realidade a partir do contato com outras culturas, trabalhando o fortalecimento de sua identidade e a valorização dos saberes locais.

O trabalho desenvolvido teve como base as seguintes estratégias: promoção de encontros formativos e realização de intercâmbio cultural, atuação em espaços do território e promoção de vivências na cidade.

Realizados semanalmente, os encontros formativos desse projeto contaram com a participação de 15 adolescentes moradores do Jardim Lapenna, com idade entre 11 e 13 anos, e estenderam-se para além do Galpão, percorrendo o território e outras áreas da cidade. A partir das temáticas trabalhadas, os participantes produziram um videodocumentário sobre a história do Jardim Lapenna e um diário de bordo ilustrado sobre o processo de criação do material e elaboraram cartas sobre a história de vida dos participantes e um álbum de fotos. Todos os materiais foram compartilhados com a escola parceira no Intercâmbio Cultural, localizada na cidade de Tapuio, no Maranhão.

Resultados e aprendizados

Mais uma vez, a construção coletiva do Festival e de sua temática contou com a participação da rede de escolas públicas, coletivos culturais e instituições culturais e socioeducativas da região, articuladas pela Fundação. Nesse processo, foi observado que muitas instituições que já participaram do evento passaram a organizar suas agendas anuais e letivas de modo a convergi-las com a realização dessa festividade, elaborando propostas de intervenções e projetos alinhados com os objetivos do Festival desde o início do ano.

Em 2016, para aprofundar as reflexões dos atores envolvidos na organização do evento sobre as questões de gênero e dar início ao desenho da programação da sétima edição do evento, foram realizados, nos dias 30 e 31 de agosto, em quatro períodos, os chamados Encontros de Trabalho Criativo, nos quais estiveram presentes representantes de mais de 30 instituições interessadas em compor a programação, entre eles educadores, coordenadores pedagógicos, bibliotecários, agentes culturais e outros.

Esses encontros de construção coletiva possibilitaram fortalecer o trabalho que cada um desses atores institucionais e não institucionais já desenvolvem no território, permitindo, por meio dos encontros e do próprio processo de realização do Festival, a consolidação de espaços voltados ao compartilhamento de práticas, a ampliação da rede de parcerias, o exercício da experimentação e a criação de ações em conjunto, além de qualificar a reflexão e a implementação de práticas em diálogo com os problemas e desafios sociais contemporâneos.